Após um ano e oito meses de “você é a pessoa que eu sempre quis” “que mulher incrível” “eu nunca te vou deixar, você é a mulher da minha vida”, noites de amor, manhãs de promessas, viagens incríveis e uma vida leve, ele foi-se embora com meia dúzia de malas e um “preciso de paz” preso na língua.
Ele foi, mas eu fiquei. Perdida em pensamentos e à procura de respostas que eu não sabia sequer se iam chegar.
Ao fim de dois ou três tombos na vida, não que fiquemos imunes, porque nunca ficamos, mas aprendemos a lidar com as imprevisibilidades da vida.
Desta vez, mais madura e mais consciente, percebi que aquilo que os outros fazem, dizem ou decidem, é sobre eles, não sobre nós. Não nos define.
Este término não fez de mim menos mulher, mais fraca, ou menos capaz. Pelo contrário. Fez-me entender que a intensidade não é para todos, que o fogo queima, arde e faz doer e que chega a um ponto que ninguém quer viver nas chamas. Fez-me entender que quem não conversa com os seus fantasmas e cura os traumas, mais cedo ou mais tarde, eles dão sinais de vida. Provavelmente numa noite tranquila em que já temos planeado o dia seguinte e que tudo se desmorona, aparentemente de repente. Mas nunca é de repente.
Gastei noites afundada nas minhas próprias lágrimas, a pensar no que seria que a vida me estava a querer dizer desta vez. Vazei copos de vinho. Queimei cigarros uns atras dos outros à procura de uma dormência que me fizesse desligar. Perguntei-me quando é que o aperto ia desaparecer, quando é que ia deixar de doer.
Sempre com aquele “você vai ficar bem, ninguém morre de amor” no meu ouvido.
Eu já sabia que não, mas ainda assim deixei-me mergulhar nos meus mais profundos pensamentos. Deixei a dor chegar e ir embora quando ela quis. Zanguei-me com Deus, questionei tudo e fiquei com raiva de ter dado tanto. Entretanto chegou a sensação de leveza. Aos poucos, as lágrimas secaram. As noites de terror transformaram-se em noites de amor-próprio.
Há pessoas que passam na nossa vida com um propósito, normalmente são as que são o caminho mas não são o destino.
Fiz as pazes com Deus e agradeci o livramento. A certa altura o fogo acaba por nos matar.
Agora os copos de vinho fazem-me brindar a sanidade e aquilo que sou e nunca mais quero deixar de ser. Porque a vida é bonita e incrivelmente curta para nos deixarmos ficar onde já não existe espaço para nós.
E agora? Agora vou viver. Plena e feliz.
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