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Abismo

Tenho a certeza de que uma das coisas que mais gosto, é o mar. Consigo percebe-lo assim que o olho por menos de dois segundos.
Ainda não percebi o que me faz gostar de ti ainda que te olhe fixamente, por mais horas que passem.
Acho que gosto de ti, quando te digo para te cuidares. Quando te digo para dormires bem. Acho que gosto de ti quando olho para os teus olhos e digo que hoje estão verdes claros. Sim. Acho que é nesse momento que gosto de ti. Gosto de ti quando te afago o rosto com a mão. Quando respiro junto a ti só para ter a certeza que estamos a respirar o mesmo ar. Gosto de ti quando sinto a barriga tremer sempre que sinto um toque teu. Sim, eu sinto. Gosto de ti, quando sorris. Oh, se gosto. Tenho a certeza que gosto de ti quando sorris. Quando sorris, eu percebo o que significa gostar de alguém, porque tenho a certeza de que se não percebesse, quando tu sorrisses, não aconteceria mais nada do que simplesmente tu, a sorrires. Não tenho a certeza se gosto de ti a sorrir, ou se gosto de mim quando te vejo a sorrir.
Gosto de ti sempre que me preocupo. Sempre que sinto de verdade que não quero que algo de mal te aconteça.
Estava tudo em pedaços quando chegaste. A única coisa que consegui fazer foi tentar juntar o que pude e guardar para ti. Está tudo aqui. Está tudo aqui para ti. Consegues ver? Eu nem sequer coloquei a hipótese de atirar alguma coisa para fora da janela. Guardei-te tudo. Foi esta a forma mais bonita que arranjei para mostrar o quanto gosto de ti.

Estou cansada deste vazio. Não existe nada que preencha aqui. É lindo quando nos encontramos em alguém, mas torna-se tão doloroso quando nos dizem que estamos enganamos, que ainda continuamos perdidos. É aqui que me encontro. Não quero mais estar aqui. O abismo é demasiado grande e eu sou pequena demais. Salvem-me. Eu gosto tanto do mar. O que é que tu tens, comparado a ele? Alguém que me salve.

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