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Enquanto nos amávamos

Conhecemo-nos na altura em que não havia limites para sentir. Queríamos, tínhamos. Sentíamos, fazíamos. E nós sentimos tanto. Não havia forças no mundo capazes de abalar o amor que nos unia. O sangue fervilhava, o coração acelerava. A ansiedade para que o tempo que nos afastava passasse depressa, sufocava-nos. Não havia medidas para o que sentíamos. Era como se estivéssemos a contemplar as maravilhas que mundo tinha reservado para nós, pela primeira vez. E de certo modo, era realmente a primeira vez. Eu, menina cheia de sonhos, e tu, homem cheio de convicções. Eu pequena de mais para conseguir acompanhar as tuas seguranças, e tu, realista de mais para abarcar nos meus sonhos. Ainda assim, mergulhámos. Quisemos saber a temperatura da água e mergulhámos. Nem sequer nos preocupámos com a profundidade, apenas fechamos os olhos e demos as mãos. Testámos ao máximo a possibilidade de conseguir viver com o que se julgava irrealizável. Esgotámos todas as possibilidades. Amámo-nos como quem se ama a uma sexta-feira de madrugada, a um sábado à tarde, e a um domingo o dia inteiro. Consumimo-nos com urgência, sempre que tínhamos a sensação de que o amanhã pudesse nunca chegar. Gastámos os beijos, os abraços e todo o toque que é possível existir entre dois seres. Não há lugar no teu corpo que eu não conheça, não há pormenor no meu que tu não consigas lembrar de olhos fechados. Consigo reportar-me neste preciso momento para a felicidade que outrora senti. Agora tão distante, mas tão real. Sentimos tanto, desejámos tanto, éramos inabaláveis. Ainda existem amores assim? Daqueles que ardem, não só no começo? Daqueles que nos dão energia todas as manhãs, e nos trazem a vontade de acolher todas as noites? Ainda existem pessoas que deixam de respirar e continuam vivas? Pessoas que sentem dores que não as suas? Oxalá que sim. Oxalá que não me tenham dado esse farto só a mim.
Contigo aprendi que só se ama uma vez. Que por muito que queiramos, nunca mais conseguiremos sentir a pele arrepiada, sem que seja de frio. Que jamais vontade alguma será outra vez mais forte que nós, e que por muitos sorrisos que possamos oferecer, nenhum vai conter a felicidade plena de quem sorri com os olhos. Contigo aprendi que, sem ti nunca mais haverá amor. Mas isso foi porque tu deixaste de sentir firmeza, amor. E os meus sonhos, esses ficaram esquecidos, entretanto, nos braços de alguém que não conseguiu fazer com que a minha pele se arrepiasse, sem que seja de frio.

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