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Mais um Inv(f)erno, meu amor...

Mais um Inverno, meu amor. A árvore de Natal já está no sítio do costume, onde era costume tantas outras coisa. Nela permanece alegria, cores e brilho. Tudo aquilo que já não consigo encontrar em mim. Deixei-te ir, e levaste tudo contigo. Mais um Inverno, meu amor, que é como quem diz mais um Inferno. Faz tanto frio. Sinto-o em dobro. Por dentro e por fora. Tudo em mim é gelo. E ao mesmo tempo arde tanto, que chega a doer. O fogo da lareira vai acender-se de igual modo, mas já não há mais chama. Não sei onde foi parar. O sol quente da manhã derrete todos os indícios de gelo, mas aqui dentro continua tudo frio. Estou a congelar, cada dia mais. E custa tanto. Mais um Inverno, meu amor, mais um que será sem ti. Os presentes vão ficar no mesmo sítio, mas já nenhum aguarda o teu sorriso e gratidão. Mais uma época especial que deixou de ser especial. Porque tu não estás comigo. Fui eu quem te deixou ir, mas não queria que me tivesses levado tudo. Estou completamente vazia. Consegues entender? Não existe nada aqui. Levaste todo o meu amor. Toda a minha paixão. Todo o meu fogo. Todas as minhas vontades. Todas as minhas emoções. Todo o meu sentir. Toda a minha felicidade. Não levaste a minha alegria, essa está comigo, pertence-me, estava morta se a tivesse perdido. Mas levaste-me a felicidade, amor. Que é algo muito próximo do desespero. Estão a segurar-se por um fio ténue. E ainda por cima, imagina, mais um Inverno, meu amor. É insuportável. Sinto dor só de pensar. Depois de tantas vezes ter lido sobre a dor de pensar, eu agora sei. Pensar faz doer. E eu penso tanto, amor. Ninguém sabe, ninguém sonha a infelicidade e a tristeza que um rosto alegre pode conter. Ainda bem. Eles não sabem nada. Ainda bem. Não há perguntas, não há dúvidas, não há mais desassossego do que aquele que trago em mim. Ainda bem que eles não sabem o que é não ter certeza de querer encontrar aquilo que desejámos perder. Eles não sabem o que é, quando a loucura bate à porta e nos deixa sem saber o que fazer. Ainda bem que eles vivem na ignorância de não saber que o amor pode ser incurável. Pode doer. Para sempre. Mas sabes, o pior de tudo isto é o que se instalou e veio para ficar, adivinha. Mais um Inverno, meu amor. E eu vou passá-lo sem ti.

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