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Caso indefinido

Acreditam em amor à primeira vista? Eu não acreditava, nem deixava de acreditar. Nunca me tinha acontecido. Cheguei a pensar que a vida era isto, e que tinha de me resignar aquilo que tinha e não ia haver espaço para ser mais feliz. Cheguei a focar-me nisso com tanta força, que quase acreditei que não ia ser mais do que era. Ter mais do que tinha. Foi preciso chegar aos trinta anos para me forçar a pensar de outra forma. E o poder da mente, de acreditar, move montanhas.
Sou de encantamento fácil, gosto de me apaixonar por aquilo que as pessoas mostram ser, por conversas intensas, por cara bonitas, por olhares profundos. Mas essencialmente, gosto de preencher espaços por inteiro, espaços que por norma estão lá mas que nunca são totalmente preenchidos. Falta sempre qualquer coisa.
Mas ao chegar à “idade que muda a nossa vida” eis que chega ele.
Sabem aquele choque de realidade que nos faz ver a vida a passar a frente em minutos? Foi isso. Sabem quando o dia está chato demais e só queremos que termine, quando já esgotámos todas as energias e nem sequer temos mais forças para falar com ninguém? Era a minha disposição. Até ele se ter sentado a minha frente a mostrar o sorriso mais bonito e genuíno que vi nos últimos tempos. Sabem aqueles sorrisos que nos fazem questionar se a pessoa é sempre assim bem disposta e se leva a vida a celebrar ou se foi só para a receção? Era desses. Daqueles que nos prende. Não posso escrever os pensamentos que tive naqueles primeiros minutos porque seria pecado, e eu já tenho a minha quota preenchida. Sabem o jeito tímido que esconde o maior dos descaramentos? Aquele dá e tira sem nada se importar em mostrar que está a dar, e pouco interessado em tirar? É ele.
Lembro-me de lhe perguntar com quem estava. Respondeu-me “eu e Deus” e eu que nem sou crente, ri-me. Só não imaginava que hoje me ia juntar ao par.
Acreditam em amor à primeira vista? Eu sim. Foi química, energia, sensações, vontades e muita emoção. Nunca me tinha acontecido. De repente, as horas já não interessavam, o cansaço nem sabia o que era, e o meu corpo foi buscar energia nem eu sei bem onde.
Normalmente estes sentimentos vinham separados, ou com o tempo, nunca numa pessoa só, numa primeira vista. Mas aconteceu. E a sensação que ficou foi de que não podia ficar por ali.
Era tudo errado, mas fazia tanto sentido. Lembro-me de pensar “tenho de o ver outra vez, não pode ter sido a última”. E de repente está a pedir-me para nos vermos nem que seja por cinco minutos, nem que seja uma última vez. Que bruxaria é essa? Acreditam em coisas que não têm explicação? Que estão simplesmente destinadas? Eu acredito muito… Porque uma semana antes tínhamos uma marcação, ele faltou. E desta vez quando vi o nome dele novamente revirei os olhos. Não gosto de pessoas que remarcam. Adiam histórias. Adiam memórias. Mas esta tinha de acontecer desta forma.
Podia esperar um par de anos para escrever esta história, mas a vida tem-me ensinado a não esperar pelo momento certo. Porque ele é agora. Amanhã não sabemos o que acontece. E eu quero tanto viver, quero tanto ser feliz. Mas não é amanhã, é hoje.
Disseram-me um dia destes, “algo assim na vida, só acontece uma vez, não podemos deixar fugir”. E eu, que dou ouvidos a tudo o que me dizem, fixei-me nessa frase e agora não me consigo desprender dela.
Ele é sentimento, é demonstração de carinho, é cuidado, é amor, é preocupação, é parceiro, é beijos que tocam na alma, é presente, é futuro, é conexão, é intensidade e é tantas outras coisas que se eu dissesse perdiam a magia, e eu não quero que se perca. Porque para além disto tudo eu quero que ele continue a ser meu. Só para mim. Por um momento ou se possível para a vida inteira. 

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