Ninguém devia de viver o amor sozinho. As ressacas sim,
essas podem e devem viver-se sozinho, mas o amor não, esse devia ter sempre um
par. Quanto tempo pode isto durar? Quanto tempo se demora a aprender uma lição
e encastra-la na nossa cabeça? Em relação às dores, perdi a esperança. Acho que
por muitas cabeçadas que possamos dar, vai sempre doer. Vão sempre haver
lágrimas. Mesmo quando dizemos que já não vamos chorar por mais ninguém, há
sempre aquele momento em que nos superamos a nós próprios. Os nós na garganta
vão sempre transformar-se em nós cegos. A boa notícia, é que vão desatar-se. Quando
eu não sei. E isso assusta-me. Acho que perdemos o medo de nunca encontrar
alguém que nos preencha as medidas, quando aceitamos que somos capazes de viver
connosco, com a nossa própria felicidade. E isso, eu acho que é um objetivo
pleno de vida. Ninguém devia colocar dependência de felicidade em ninguém, em
nada, para além de nós mesmos. Nós vamos estar sempre aqui, vamos sempre
recordar um pensamento que tivemos connosco próprios, vamos sempre ter uma
memória. As outras pessoas desaparecem. Prometendo, ou não, o “nunca te vou
magoar” nunca se cumpre. Pode haver vontade, mas é inevitável. As pessoas
magoam-nos, sempre. Seja em atitudes ou palavras. Às vezes a culpa é nossa. Às
vezes fazemos coisas que nos auto mutilam e a outra pessoa só foi apanhada na
hora certa, no lugar certo, com as armas na mão. Ela pode nem ser culpada, mas a
culpa vai estar sempre explícita. Afinal, ela era quem tinha as armas. Outras
vezes a culpa não é, simplesmente, nossa. E há quem seja tão humilde que queira
acreditar que sim, que se mortifique por coisas que nem foram cometidas.
A minha ingenuidade, infantilidade, falta de anos e de
danos, fez com que me apaixonasse por ele. Isso, e a credibilidade nos amores
verdadeiros e precoces. São dois termos que não se conjugam, aparentemente. Só
descobri há pouco tempo. Antes disso, eu acreditava que era amor, amor com
horas, dias ou meses. Mas era amor. Só se viria a revelar mais tarde, mas mesmo
mais tarde iriamos dizer “naquele dia, já era amor”, mas isto pensava eu na
embriaguez dos meus sentimentos. A culpa não é dos livros de romances perfeitos
que lemos, ou dos finais felizes dos filmes, a culpa é daquilo que sentimos
quando o nosso coração não para de bater rápido demais por alguém. Existem
pessoas que sentindo ou não, vão achar sempre uma desculpa. Seja do excesso de
cafeína, seja da corrida que deram, do susto que apanharam. Mas existem outras
que vão perceber. Vão ter tanta intensidade nas relações que vivem, que vão
entender que aquilo é sentir, é viver, é amor. E então, a culpa é somente
nossa, que não sabemos guardar e esconder aquilo que é tão grande que não cabe
dentro de nós mesmos. Somos pequenos demais para abarcar com sentimentos, e com
falta deles. É por isso andamos constantemente à procura de algo. Não sabemos
sequer o quê, só queremos sentir. Quando achamos alguém que julgamos capaz de
suportar tudo aquilo que precisamos que seja carregado, damos tudo. Tudo.
Achamos que o tempo vai acabar, que todas as horas vão passar depressa demais,
que os dias vão ser mais pequenos, e as noites afastados, cada vez mais longas.
E não queremos perder nada. Nem um momento. É por isso que certas pessoas dão
tudo, assim, sem se conter. Não é uma questão de não saberem que estão a tomar
a opção errada. A maior parte sabe que está a caminhar para o abismo, mas ainda
assim, a vontade é superior, e os passos para a nossa sentença de morte
aproximam-se cada vez mais. Quase que a conseguimos avistar ao longe, mas
continuamos a querer mais um bocadinho agora, mais um momento de carência
curado, mais uma mão quente no coração. Só por agora. Somos egoístas connosco
mesmos e não pensamos na felicidade a longo prazo. Pensamos nos momentos que
nos vão fazer tremer, mas só por agora. É isso a nossa morte. É isso que parece
uma doença incurável que nos mata a nós e àquele amor que se estava a formar e
a chegar perto, aos poucos, a ambientar-se e que nós próprios, com medo de
perder, fizemos com que se perdesse.
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