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Querer-te

Sinto falta daquilo que não somos.
Estás em todos os cantos da rua, nos rostos de quem passa sem eu saber sequer do que são feitos.
Estás assombrado pelas minhas dúvidas misturadas com convicções.
O ridículo torna-se encantador.
É estranho sentir as coisas que achamos que não se deviam estar a sentir. Se calhar nem as sinto. Mas continuo a querer-te por inteiro.
O amor dilacera-me. É por isso que quero fugir dele. Mas não quero fugir de ti, mesmo que tragas contigo tudo aquilo que sei que me vai matar, mais cedo ou mais tarde.

Sabe que não gosto de metades. Gosto por inteiro. Vivo por inteiro, faço por inteiro. Haverá dias em que nem a metade quero, em que todas as palavras que digas vão cair como pedras duras, mesmo que não seja essa a tua intenção. Haverá dias que vou querer todos os lugares menos aquele ao qual tu pertences. Mas ainda vou continuar a querer-te. Vou querer-te como se quer a um Domingo o dia todo, e não só como se quer numa sexta-feira à noite. E ainda assim, tu não vais perceber. Sabe que sou confusa, que na maior parte dos dias a estranheza possuí-me. Mas vou continuar a querer-te mesmo quando sentir que não existe norte. As pessoas acham que terminar uma relação é uma coisa má, cheia de sofrimento e remorsos, e nunca olham para a parte que isso pode trazer de positivo. Aprendemos, reconhecemos erros, conhecemos o que é lidar com alguém que apesar de morar dentro de nós, se movimenta livremente. Isso só pode ser bom, só traz lições. Tem de ser bom. Tem de nos abrir uma porta para não voltarmos a cometer os mesmos erros, para saber amar mais e melhor, com menos defeitos, e mais intensidade ainda. Um amor puro, sem sujidade e sem manchas negras espalhadas pelo caminho. É por isso que sei que vai ser doce. Vai ser leve, vai-nos fazer levitar. Vai-nos libertar tanto que só vamos querer estar ligados. É por isso que te vou continuar a querer, mesmo nos dias que acho que não te quero. É por isso que faz doer, que faz sentir turbilhões, mas nunca, em momento algum, vou saber fazer outra coisa, se não querer-te. 

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