Mensagens

CURA

A cura vem com noites como esta... calmas, silenciosas, em que o estar só é sinónimo de paz. Vem com reconhecer o vazio em vez de querer fugir dele.  O renascimento tem silêncio. Tem dias neutros e um coração que ainda não vibra. Tem falta de esperança e desespero. A cura às vezes implica cobrança interior, desgaste mental que chega a ser físico. Vem com incompreenção e perguntas muitas das vezes sem respostas imediatas. Mas vão chegando. A cura também é isso. O entendimento do que no passado era totalmente desconhecido. A aceitação de ciclos que não podem ser ignorados. O nosso corpo e mente são mágicos. Afastam-nos de tudo aquilo que não nos fortalece. Por mais que insistamos, por mais que queiramos ficar por ali, a tentar que as feridas sarem com o curativo errado. O corpo rejeita aquilo que a mente não tem forças para negar.  É quando a cura chega. Quando o entusiasmo volta aos poucos, com paciencia e calma. A vida sabe o que faz            ...

O que fica, quando alguém se vai

 Após um ano e oito meses de “você é a pessoa que eu sempre quis” “que mulher incrível” “eu nunca te vou deixar, você é a mulher da minha vida”, noites de amor, manhãs de promessas, viagens incríveis e uma vida leve, ele foi-se embora com meia dúzia de malas e um “preciso de paz” preso na língua.  Ele foi, mas eu fiquei. Perdida em pensamentos e à procura de respostas que eu não sabia sequer se iam chegar.  Ao fim de dois ou três tombos na vida, não que fiquemos imunes, porque nunca ficamos, mas aprendemos a lidar com as imprevisibilidades da vida. Desta vez, mais madura e mais consciente, percebi que aquilo que os outros fazem, dizem ou decidem, é sobre eles, não sobre nós. Não nos define.  Este término não fez de mim menos mulher, mais fraca, ou menos capaz. Pelo contrário. Fez-me entender que a intensidade não é para todos, que o fogo queima, arde e faz doer e que chega a um ponto que ninguém quer viver nas chamas. Fez-me entender que quem não conversa com os seus...

Akai Ito

Despedimo-nos com um aperto no peito, um olhar triste e uma promessa de regresso que sabíamos que não íamos cumprir. Disseste-me "Vai viver a tua vida, sê feliz, um dia a gente encontra-se".  Eu podia viver mil vidas, tinha a certeza que esse encontro não ia acontecer.  Fomos viver a nossa vida. Vivemos experiencias que certamente naquela época, juntos, não seria possível. Explorámos tudo o que havia para explorar, separados. Fomos vida, demos vida, deram-nos vida a nós. Felizmente, agora sei, não a suficiente. Lembro-me de querer sempre saber de ti, perguntar por ti, não perguntar e ainda assim querer saber se eras feliz. Lembro-me até de ficar feliz pelas tuas conquistas. Guardei-te com amor e carinho num lugar só teu onde mais ninguém tinha acesso e o tempo passou. Faz quinze anos que te amei ao ponto de sofrer horrores por saber que não podíamos ficar juntos, embora quiséssemos. Éramos miúdos. Cheios de vontades e com pouca sabedoria. Olhar para ti naquela altura era como...

"Depois do medo, vem o mundo"

No dia que li esta frase, foi o momento em que entendi tudo.  Depois de toda a tempestade que passou por mim, senti finalmente que descansava sob uma cama de nuvens, cheia de conforto. Achava que era aquilo a recompensa por tudo o que já me tinha atormentado no passado e entreguei-me sem medo. Entreguei-me como quem está tão cansada que coloca as decisões nas mãos de outra pessoa e desfruta do caminho.  Mas Deus tem sempre um plano maior para nós, mesmo quando não entendemos.  Vivi os melhores dias da minha vida, as melhores semanas e os melhores meses. Amei, fui amada, cuidei, fui cuidada, abracei, fui abraçada, beijei, fui beijada. Depois veio a escuridão. Fui deixada como quem fecha uma janela num dia de sol. Assim, nessa rapidez. Os sonhos, os planos, toda a vida que sonhei, puxada debaixo dos meus pés de repente e sem qualquer hipótese de recuperação.  Seguiram-se dias muito duros. Em que me questionei a mim própria, perguntei-me onde é que não fui suficiente, o...

O amor que eu merecia

Há seis meses conheci a pessoa que me mudou. Seria cliché chamá-lo de amor da minha vida, uma vez que ainda estamos a menos de meio do fim da nossa vida, e só podemos tirar elações no final da história. A vida surpreende-nos, sempre. Normalmente, quando menos esperamos. Sendo eu uma pessoa de vivências, é curioso conseguir distinguir os sentimentos que guardo dentro do peito. Ao longo da vida temos alguns amores. O da adolescência, que nos faz acreditar que tudo é um conto de fadas, mas mais tarde ou mais cedo nos quebra. O da vida adulta, que julgamos eterno e melhor ou pior, é o que temos. Mas depois existe isto. Que ainda não sei bem definir. Acho que lhe vou chamar o amor que eu merecia. Este amor traz com ele a paz. Traz a paz de um final de tarde de domingo aconchegados no sofá embrenhados na felicidade da presença um do outro, sem que seja preciso mais que isso. Traz a energia de acordar cedo numa manhã de sol, com o entusiasmo de uma criança radiante por ir brincar no p...

Olá Pai

Há algum tempo alguém me disse que devia escrever-te. Não tive vontade e a ideia deixou-me revoltada. Ainda não sei se irás ser conhecedor destas palavras, mas agora tenho vontade e necessidade de as dizer. Há muita coisa que não sabes. A primeira, é que quando estamos dentro da bolha não conseguimos enxergar para fora dela, achamos que só existe aquele mundo, que é tudo imaculado e que fora dele é o desespero e que ficamos sem chão. Pois então vou dar-te uma novidade que talvez não saibas: eu desesperei e perdi o chão. Porque tal como tu, só conhecia o mundo dentro dessa pequena e apertada cúpula, onde tu vives e eu acredito que sempre viverás. Sempre vivi sob um céu estrelado que achei que me iria iluminar a vida inteira, que nunca me deixaria perder o rumo, e a verdade é que continuo a viver. Tenho muito de ti, mas sou uma versão muito mais melhorada. Tu, não saberias levantar-te do caos, e eu não só me levantei, como voltei a subir. Sabes porquê? Porque sempre me recusei a ficar al...

O teu nome não é Jonny, é amor

Há dias em que tenho de correr para o ecrã porque sinto que o que me ocupa a cabeça tem de rapidamente ser descarregado antes que se perca na imensidão dos meus pensamentos. Outros que apenas sinto que tenho de dizer algo, mas não sei bem o que. Este é um destes momentos. Estou colada ao ecrã a deixar que os meus dedos deslizem pelas teclas à medida que os pensamentos me surgem. Não sei que tipo de escrita é esta, eu chamo a que me deixa de coração mais calmo, porque neste momento está bem apertado. Chegou ao fim mais um ano. Mas este é especial. Achei que ia ser igual aos outros, meio sem graça, em que andamos aqui a procura de algo que nos faça sentir e tentar idealizar um objetivo que está muito lá ao fundo, mal o vemos, mas guardamos a esperança de um dia o alcançar. Era essa a minha posição, e tristemente tinha-me entregue a ela de corpo e alma. Felizmente tenho pessoas maravilhosas à minha volta que me abrem os horizontes todos os dias. Umas com palavras doces, outras com palavra...

As saudades doem no coração

No dia em que te conheci e sorriste para mim, invejei por segundos a tua boa disposição. Desejei tê-la comigo todos os dias. Porque é muito bom termos ao nosso lado alguém que sorri como nós, que tem uma energia positiva igual a nossa e um astral alto. E isso percebe-se nos primeiros minutos de conversa. Existem pessoas felizes por natureza, pessoas com dias felizes e pessoas que se queixam todos os dias, essas são com certeza infelizes. Percebi que eras dos meus. A vida podia ter-te dado as maiores cargas, eu nem sequer as conhecia ainda, mas tu eras feliz. Dos que acorda num dia de chuva e anseia o arco-íris. Eu que sou de pensar muito e de imaginar cenários, não imaginei nenhum. Embrenhei-me na conversa até perder a hora, perder o motivo e perder o chão. Perdi-me até hoje, em que me sinto completamente envolta neste sentimento que não tinha há tanto tempo quanto me consigo lembrar. Estás a uma distância de 7800km de mim, levaste contigo o coração que eu te entreguei sem sequer...

Coragem

Costuma-se dizer que a vida primeiro nos faz fortes, depois felizes. Sempre ouvi isso. Mas nunca tinha entendido o momento em que me fizeram forte, uma vez que sempre fui feliz. Entretanto, ele chegou. Já há algum tempo. Pontapearam-me, rasgaram-me ao meio e atiraram-me por um precipício. Quando cheguei lá abaixo e acordei, tive de piscar os olhos uma quantas vezes para ter a certeza de que estava viva. Aparentemente, ainda respirava, tinha pulsações e continuava a ter visão, embora muito distorcida da realidade. Não me perguntem como ficou a minha cabeça. Ainda hoje eu não sei dizer.  Quando estava lá em baixo e olhei para cima, ouvi vozes, vi braços estendidos e senti muita energia a envolver-me. Isso deu-me força, mas também me fez perceber que para chegar ao topo eu teria de me recuperar e subir pelo meu próprio pé. Foi aí que começou a jornada da força. Fui buscá-la ao meu mais profundo ser. Fui buscá-la ao fundo do meu coração completamente despedaçado. Foquei-me na esperança...

Caso indefinido

Acreditam em amor à primeira vista? Eu não acreditava, nem deixava de acreditar. Nunca me tinha acontecido. Cheguei a pensar que a vida era isto, e que tinha de me resignar aquilo que tinha e não ia haver espaço para ser mais feliz. Cheguei a focar-me nisso com tanta força, que quase acreditei que não ia ser mais do que era. Ter mais do que tinha. Foi preciso chegar aos trinta anos para me forçar a pensar de outra forma. E o poder da mente, de acreditar, move montanhas. Sou de encantamento fácil, gosto de me apaixonar por aquilo que as pessoas mostram ser, por conversas intensas, por cara bonitas, por olhares profundos. Mas essencialmente, gosto de preencher espaços por inteiro, espaços que por norma estão lá mas que nunca são totalmente preenchidos. Falta sempre qualquer coisa. Mas ao chegar à “idade que muda a nossa vida” eis que chega ele. Sabem aquele choque de realidade que nos faz ver a vida a passar a frente em minutos? Foi isso. Sabem quando o dia está chato demais e só quere...