O dia estava cinzento,
doente, e chuvoso. O típico dia em que achamos que nada fará com que nasça cor,
e a monotonia se quebre. Não demorou até que todas as veias do corpo dela se
retesassem com a brevidade a que o sangue corria… Restaram escassos segundos
até que todo o corpo se encontrasse estático e pronto a tombar sem avisar.
O mundo, e tudo aquilo que
fazia parte da sua composição, deixou de estar presente em todo o momento. Os
carros que na rua passavam a alta velocidade deixaram de se ouvir, as luzes dos
candeeiros deixaram de iluminar, e todos os pequenos ruídos ensurdecedores
ficaram em pleno silêncio. Foi como se alguém se tivesse lembrado de desligar o
interruptor do mundo e tudo ficasse às escuras.
Somente permanecia o
brilho que dançava na periferia daquele modelo perfeito de requinte que se
encontrava ali mesmo, de olhos em fulgor postos nela, como se a fossem perfurar
a qualquer instante. Perdemos tempo de mais a pensar nas perguntas básicas que
podem arriscar-se a dar um sentido à vida: “Porquê?”, “Como?”, “Qual a
explicação?”… E nem fazemos uma pequena noção do quão inútil isso se pode
tornar, aliás, gastamos tempo de mais com a preocupação de nomear sentimentos,
em vez de pararmos e sentirmos a importância dos mesmos, e a sorte que temos em
podermos alcança-los.
Porém, ela era diferente
de todas as criaturas humanas que apenas existiam para fazer o papel disso
mesmo, humanas. Ela sabia valorizar tudo aquilo que lhe era oferecido com a
maior das forças, sabia lucrar dos prodígios como se aquele fosse o último
momento de vivencia para que estava destinada.
O vento soprava, de
maneira a refrescar a mente e mantê-la aberta para tudo o que havia de bom, ela
conseguia senti-lo por entre os cabelos que se lhe agitavam pelo rosto.
Sabia que se havia razões
para partir feliz, ou para querer ficar, ali estava uma delas e não existia
nada que a fizesse mais feliz do que se sentir ambicionada. Era esse o poder que
sentia na presença daquele afecto, dado por quem ela mais gostava. Conseguia
ver a beleza interior coberta por todo aquele encanto que se expunha aos olhos
vivos e que fazia empalidecer.
Sabia saborear cada
momento com a intensidade que noutros tempos podia passar despercebida.
Sabia-lo e adorava conseguir ver as coisas dessa maneira. No entanto, chegou a
conclusão que todas aquelas boas sensações estavam presentes apenas por alguns
momentos, quando o que ela desejava era sentir tudo aquilo para o resto da vida.
Na altura ficou sem saber o que fazer e pensar, achou que todas aquelas sensações
eram falsas e que nada fez sentido por todo o tempo em que esteve presente.
Até finalmente chegar o
dia em que percebeu que nunca ia encontrar respostas, e que se encontrava numa
situação em que não podia fazer planos de castelos, sobre areia molhada, apesar
de areia molhada ser aquilo que ela mais adorava.
Mas ainda assim, em vez de
ficar infeliz por aquela situação confusa, decidiu sorrir por ela existir e ter
uma parte tão boa, que a conseguia deixar a sorrir por bastante tempo. Foi ai
que ela percebeu que nem sempre tem de haver resposta para tudo, mas tudo tem
razão de ser, até o pecado.
Como acabou a história?
Não sei. Se calhar nunca chegarei a saber…
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