- Entra –
Disse-lhe eu com uma voz rouca e desfocada.
Sentamo-nos na cama coberta com a colcha verde, e assim ficamos durante alguns momentos enquanto eu tentava perceber o que era aquilo tudo, e o que significava. Foram horas de conversa a fio, olhares trocados e fortes batidas de coração. A minha cabeça que rodava a mil à hora estava mais confusa do que o habitual, não sabia o porque de estar ali, outra vez, quando tudo o que mais queria era esquecer (ou que deveria querer).
Sabia que estava tudo errado e que mais uma vez ia jogar, dar tudo, depositar confiança, acreditar e no fim, perder tudo mais rápido do que quando ganhei. Para mim até aquele momento, estava tudo claro. As ideias estavam definidas, as decisões tomadas e nada nem ninguém teria força suficiente para me convencer de outra maneira se não aquela que eu pensava.
- Gostava que não tivesse sido assim, desta maneira fria e incontestável – arfou ele.
Fiquei admirada com aquela melancolia transmitida, o rapaz que me desprezara a toda a hora, que demonstrava querer tudo menos ter-me por perto, estava agora a lamentar-se por eu estar a por um fim àquela estranha amizade? Se é que se podia chamar assim… O turbilhão de dúvidas que habitavam na minha cabeça tinha agora acabado de dar mais uma volta, esfriei e os meus olhos semicerraram-se diante tal confissão.
- Que queres dizer com isso?
- Sabes, as coisas nem sempre são o que parecem, nem sempre aquilo que transmitimos corresponde àquilo que realmente sentimos e por vezes cometemos erros, sabes. E este pode ser um daqueles decididamente irremediáveis – Retorquiu.
Seria possível? Das duas, uma: Eu estava a ficar louca, ele ainda não tinha chegado e eu estava a imaginar o impossível, na minha cabeça perdida, e dentro de momentos iria descer à Terra e perceber que mais uma vez, estava a sonhar acordada; Ou então, é mesmo verdade, ele estava ali, era real e autentico e estava a tentar transmitir algo que julgara já perdido.
- Estas a falar do quê? Estou um tanto quanto perdida.
- Sabes, penso que tens uma ideia um pouco distorcida em relação a tudo aquilo que sinto por ti. - O meu coração começou a bater de tal maneira, como se quisesse saltar do meu peito, conseguia ouvir cada batimento sem qualquer tipo de esforço. – Na verdade, não me és assim tão imparcial, e tudo aquilo que pensas está mesmo completamente errado. Sei que sempre dei a ideia de que não te suportava, de que eras o ser mais desinteressante que podia existir neste mundo, mas na realidade, é tudo completamente falso.
Para mim, és o ser mais incrível que alguma vez vi, és o exemplo perfeito de perfeição, e os dias seriam completamente vazios se não te tivesse sempre por perto. Tens os traços mais únicos e rematados que alguém pode ter, és tão delicada e ao mesmo tempo tão tentadora que os meus membros quase que fazem faísca só de estar perto de ti, no entanto, gostava de ter tido a coragem para te dizer isto antes e evitar todo o mal que te fiz. Gostava de não te ter rejeitado tantas vezes, de não te ter rebaixado em frente a tudo e todos, quando a minha vontade sempre foi abraçar-te e dizer para seres minha. Provavelmente achas que sou doido ou algo do género ou talvez não acredites em nada do que estou a dizer, mas a verdade é esta, para mim, és incomparável e eu amo-te mais do que possas imaginar. Agora é tarde de mais, tenho consciência disso, mas pelo menos, não te vais embora com um pensamento errado.
Agora, já sabes de tudo.
E eu que julgava que esta vida não tinha mais nada para me surpreender. No meu estômago permanecia um misto de nervos com ansiedade, e a minha cabeça, estava prestes a rebentar com tanta efusão. Afinal não era mentira. Eu não estava louca, ele estava mesmo ali, e todo o pesadelo parecia começar a dar amostras de fim. Tentei concentrar-me nas suas palavras antes de dizer algo que pudesse deitar tudo a perder. Então, o rapaz que eu pensava odiar-me afinal ama-me e esta à minha frente a dize-lo?
- Ouve, isto é tudo muito…
- Eu sei, eu sei, não precisas de perder mais tempo a explicar-te, eu sei que estou a ser ridículo e que estas palavras não fazem sentido algum, o melhor é eu ir embora.
Levantou-se num acto repentino preparando-se para ir de encontro à saída.
- Muito bom!
Retraiu-se e olhou-me com os seus olhos castanhos brilhantes inundados de lágrimas que não tardavam em escorregar do seu rosto perfeito.
- Que disseste? Perguntou, parecendo dúvidar das suas capacidades auditivas.
- Talvez isto pareça um absurdo, e eu não deva acreditar em nenhuma das tuas palavras, mas a verdade é que isto parece irreal. Talvez amanhã tudo mude, e eu perceba que estava errada e que me mentiste… - Não! - Interrompeu-me. – Eu sei que pode parecer estranho mas esta é a verdade, e não consigo dizer outra porque isto sim, é o que sinto. Por favor… Antes de ires embora, diz que me desculpas. Pelo menos isso.
- Porque é que me estas a fazer isto? Estou prestes a desistir do meu futuro por tua culpa, não devias tê-lo dito, preferia ir embora a pensar que era o teu ser desprezível de estimação e que não valia a pena lutar mais pelo inatingível.
- Não vim aqui para te fazer desistir de nada. Desculpa, mas não podia deixar-te partir sem antes mandar tudo cá para fora. Desculpa ter sido tão egoísta, desculpa ter-te magoado. Talvez agora seja melhor ir embora.
E desta vez não consegui impedi-lo. Queria falar mas a voz ficou presa. Queria levantar-me, correr atrás dele e dizer que o perdoava por tudo, mas as minhas pernas ficaram imóveis. Deparei-me com a tristeza dele, e não desejei que sentisse tudo aquilo que eu senti durante tanto tempo.
Corri com todas as minhas forças, gritei o nome dele vezes sem conta, mas ele já estava fora do meu alcance. Sai pela porta principal, pelo portão, e foi nesse instante que os meus olhos o alcançaram. E lá ia ele, com o seu modelo invejável, com a sua postura que devia ser proibida por provocar tanta tontura. – Estremeci – Retomei a minha corrida e consegui alcança-lo em breves segundos.
Olhou para trás e observei a sua expressão triste e perdida, conseguia ver nos olhos dele que jogara agora sobre um tabuleiro sem base, e tinha perdido todas as peças. Aproximei-me dele, senti a minha respiração ofegante, o que não me impediu de continuar.
- Perdoo-te tudo! Há coisas que por muito importantes que possam ser, podem ser desperdiçadas, outras que por sua vez, não nos são dadas a segunda vez. Tu és uma delas, és a minha oportunidade, és uma dádiva e não te vou perder por orgulho qualquer do mundo.
A sua expressão acalmou, rasgou-se um sorriso nos seus lábios delineados, que no momento a seguir se encontravam colados aos meus. Senti um arrepio. Deixei-me levar, e os meus braços rapidamente se uniram em torno do seu pescoço.
Afastou cuidadosamente os rostos sussurrando ao meu ouvido: - Nunca mais me vou arriscar tanto a perder-te, este momento, é nosso. Ninguém nos pode tirar, obrigado.
Sentamo-nos na cama coberta com a colcha verde, e assim ficamos durante alguns momentos enquanto eu tentava perceber o que era aquilo tudo, e o que significava. Foram horas de conversa a fio, olhares trocados e fortes batidas de coração. A minha cabeça que rodava a mil à hora estava mais confusa do que o habitual, não sabia o porque de estar ali, outra vez, quando tudo o que mais queria era esquecer (ou que deveria querer).
Sabia que estava tudo errado e que mais uma vez ia jogar, dar tudo, depositar confiança, acreditar e no fim, perder tudo mais rápido do que quando ganhei. Para mim até aquele momento, estava tudo claro. As ideias estavam definidas, as decisões tomadas e nada nem ninguém teria força suficiente para me convencer de outra maneira se não aquela que eu pensava.
- Gostava que não tivesse sido assim, desta maneira fria e incontestável – arfou ele.
Fiquei admirada com aquela melancolia transmitida, o rapaz que me desprezara a toda a hora, que demonstrava querer tudo menos ter-me por perto, estava agora a lamentar-se por eu estar a por um fim àquela estranha amizade? Se é que se podia chamar assim… O turbilhão de dúvidas que habitavam na minha cabeça tinha agora acabado de dar mais uma volta, esfriei e os meus olhos semicerraram-se diante tal confissão.
- Que queres dizer com isso?
- Sabes, as coisas nem sempre são o que parecem, nem sempre aquilo que transmitimos corresponde àquilo que realmente sentimos e por vezes cometemos erros, sabes. E este pode ser um daqueles decididamente irremediáveis – Retorquiu.
Seria possível? Das duas, uma: Eu estava a ficar louca, ele ainda não tinha chegado e eu estava a imaginar o impossível, na minha cabeça perdida, e dentro de momentos iria descer à Terra e perceber que mais uma vez, estava a sonhar acordada; Ou então, é mesmo verdade, ele estava ali, era real e autentico e estava a tentar transmitir algo que julgara já perdido.
- Estas a falar do quê? Estou um tanto quanto perdida.
- Sabes, penso que tens uma ideia um pouco distorcida em relação a tudo aquilo que sinto por ti. - O meu coração começou a bater de tal maneira, como se quisesse saltar do meu peito, conseguia ouvir cada batimento sem qualquer tipo de esforço. – Na verdade, não me és assim tão imparcial, e tudo aquilo que pensas está mesmo completamente errado. Sei que sempre dei a ideia de que não te suportava, de que eras o ser mais desinteressante que podia existir neste mundo, mas na realidade, é tudo completamente falso.
Para mim, és o ser mais incrível que alguma vez vi, és o exemplo perfeito de perfeição, e os dias seriam completamente vazios se não te tivesse sempre por perto. Tens os traços mais únicos e rematados que alguém pode ter, és tão delicada e ao mesmo tempo tão tentadora que os meus membros quase que fazem faísca só de estar perto de ti, no entanto, gostava de ter tido a coragem para te dizer isto antes e evitar todo o mal que te fiz. Gostava de não te ter rejeitado tantas vezes, de não te ter rebaixado em frente a tudo e todos, quando a minha vontade sempre foi abraçar-te e dizer para seres minha. Provavelmente achas que sou doido ou algo do género ou talvez não acredites em nada do que estou a dizer, mas a verdade é esta, para mim, és incomparável e eu amo-te mais do que possas imaginar. Agora é tarde de mais, tenho consciência disso, mas pelo menos, não te vais embora com um pensamento errado.
Agora, já sabes de tudo.
E eu que julgava que esta vida não tinha mais nada para me surpreender. No meu estômago permanecia um misto de nervos com ansiedade, e a minha cabeça, estava prestes a rebentar com tanta efusão. Afinal não era mentira. Eu não estava louca, ele estava mesmo ali, e todo o pesadelo parecia começar a dar amostras de fim. Tentei concentrar-me nas suas palavras antes de dizer algo que pudesse deitar tudo a perder. Então, o rapaz que eu pensava odiar-me afinal ama-me e esta à minha frente a dize-lo?
- Ouve, isto é tudo muito…
- Eu sei, eu sei, não precisas de perder mais tempo a explicar-te, eu sei que estou a ser ridículo e que estas palavras não fazem sentido algum, o melhor é eu ir embora.
Levantou-se num acto repentino preparando-se para ir de encontro à saída.
- Muito bom!
Retraiu-se e olhou-me com os seus olhos castanhos brilhantes inundados de lágrimas que não tardavam em escorregar do seu rosto perfeito.
- Que disseste? Perguntou, parecendo dúvidar das suas capacidades auditivas.
- Talvez isto pareça um absurdo, e eu não deva acreditar em nenhuma das tuas palavras, mas a verdade é que isto parece irreal. Talvez amanhã tudo mude, e eu perceba que estava errada e que me mentiste… - Não! - Interrompeu-me. – Eu sei que pode parecer estranho mas esta é a verdade, e não consigo dizer outra porque isto sim, é o que sinto. Por favor… Antes de ires embora, diz que me desculpas. Pelo menos isso.
- Porque é que me estas a fazer isto? Estou prestes a desistir do meu futuro por tua culpa, não devias tê-lo dito, preferia ir embora a pensar que era o teu ser desprezível de estimação e que não valia a pena lutar mais pelo inatingível.
- Não vim aqui para te fazer desistir de nada. Desculpa, mas não podia deixar-te partir sem antes mandar tudo cá para fora. Desculpa ter sido tão egoísta, desculpa ter-te magoado. Talvez agora seja melhor ir embora.
E desta vez não consegui impedi-lo. Queria falar mas a voz ficou presa. Queria levantar-me, correr atrás dele e dizer que o perdoava por tudo, mas as minhas pernas ficaram imóveis. Deparei-me com a tristeza dele, e não desejei que sentisse tudo aquilo que eu senti durante tanto tempo.
Corri com todas as minhas forças, gritei o nome dele vezes sem conta, mas ele já estava fora do meu alcance. Sai pela porta principal, pelo portão, e foi nesse instante que os meus olhos o alcançaram. E lá ia ele, com o seu modelo invejável, com a sua postura que devia ser proibida por provocar tanta tontura. – Estremeci – Retomei a minha corrida e consegui alcança-lo em breves segundos.
Olhou para trás e observei a sua expressão triste e perdida, conseguia ver nos olhos dele que jogara agora sobre um tabuleiro sem base, e tinha perdido todas as peças. Aproximei-me dele, senti a minha respiração ofegante, o que não me impediu de continuar.
- Perdoo-te tudo! Há coisas que por muito importantes que possam ser, podem ser desperdiçadas, outras que por sua vez, não nos são dadas a segunda vez. Tu és uma delas, és a minha oportunidade, és uma dádiva e não te vou perder por orgulho qualquer do mundo.
A sua expressão acalmou, rasgou-se um sorriso nos seus lábios delineados, que no momento a seguir se encontravam colados aos meus. Senti um arrepio. Deixei-me levar, e os meus braços rapidamente se uniram em torno do seu pescoço.
Afastou cuidadosamente os rostos sussurrando ao meu ouvido: - Nunca mais me vou arriscar tanto a perder-te, este momento, é nosso. Ninguém nos pode tirar, obrigado.
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