Avançar para o conteúdo principal

Recordação Esquecida

Passava horas, sentada a olhar para o mesmo retrato. Chegava até a esquecer-se das refeições que tinha de tomar ao longo do dia, dos deveres que tinha em mãos e quase que não ouvia quando chamavam pelo seu nome. Achava estranho a sua ausência que assegurava uma presença constante junto àquela imagem que, por tanta simplicidade, conseguia transmitir uma ideia de felicidade. Relembrava os tempos em que era feliz. Passeava de mão dada com ele e sorria para tudo aquilo que nem sequer sentido fazia. O tempo passava, cada vez mais rápido, e lá estava ela. Sempre com o mesmo olhar que mais cedo ou mais tarde se direccionava para a tal fotografia. Cheguei a ter medo que não voltasse a ser a mesma menina que eu conheci em tempos, sorridente e bem-falante para com todos aqueles que a cumprimentavam. Ultimamente o seu mundo havia-se tornado tão minúsculo que quase nem dava a possibilidade de entrarmos nele. Isso assustava-me, confesso. Achei que, se se fechasse num pequeno mundo à parte, não a iríamos conseguir ajudar.
Surpreendeu-me, quando certo dia, o seu olhar deixou de ser o mesmo.
Olhei para o quadro, e a fotografia já não mais existia. Sem demora, fiz questão de lhe perguntar o que haveria acontecido a tal retrato que teria sido tão importante. Respondeu-me que o tempo afinal cura tudo e que ao expor o seu olhar sobre ela, apenas estava a reacender a chama que já haveria sido apagada, mesmo sem todos nós darmos conta.

Senti-me feliz por ela. É bom quando temos perto de nós alguém com tanta força e que nunca desiste de ser feliz. E melhor ainda, é sermos essa mesma pessoa, e sentir-mos orgulho por nós próprios, hoje sou feliz e posso dizer com toda a certeza: CONSEGUI! 

Comentários

Mensagens populares deste blogue

"Depois do medo, vem o mundo"

No dia que li esta frase, foi o momento em que entendi tudo.  Depois de toda a tempestade que passou por mim, senti finalmente que descansava sob uma cama de nuvens, cheia de conforto. Achava que era aquilo a recompensa por tudo o que já me tinha atormentado no passado e entreguei-me sem medo. Entreguei-me como quem está tão cansada que coloca as decisões nas mãos de outra pessoa e desfruta do caminho.  Mas Deus tem sempre um plano maior para nós, mesmo quando não entendemos.  Vivi os melhores dias da minha vida, as melhores semanas e os melhores meses. Amei, fui amada, cuidei, fui cuidada, abracei, fui abraçada, beijei, fui beijada. Depois veio a escuridão. Fui deixada como quem fecha uma janela num dia de sol. Assim, nessa rapidez. Os sonhos, os planos, toda a vida que sonhei, puxada debaixo dos meus pés de repente e sem qualquer hipótese de recuperação.  Seguiram-se dias muito duros. Em que me questionei a mim própria, perguntei-me onde é que não fui suficiente, o...

O amor que eu merecia

Há seis meses conheci a pessoa que me mudou. Seria cliché chamá-lo de amor da minha vida, uma vez que ainda estamos a menos de meio do fim da nossa vida, e só podemos tirar elações no final da história. A vida surpreende-nos, sempre. Normalmente, quando menos esperamos. Sendo eu uma pessoa de vivências, é curioso conseguir distinguir os sentimentos que guardo dentro do peito. Ao longo da vida temos alguns amores. O da adolescência, que nos faz acreditar que tudo é um conto de fadas, mas mais tarde ou mais cedo nos quebra. O da vida adulta, que julgamos eterno e melhor ou pior, é o que temos. Mas depois existe isto. Que ainda não sei bem definir. Acho que lhe vou chamar o amor que eu merecia. Este amor traz com ele a paz. Traz a paz de um final de tarde de domingo aconchegados no sofá embrenhados na felicidade da presença um do outro, sem que seja preciso mais que isso. Traz a energia de acordar cedo numa manhã de sol, com o entusiasmo de uma criança radiante por ir brincar no p...

Olá Pai

Há algum tempo alguém me disse que devia escrever-te. Não tive vontade e a ideia deixou-me revoltada. Ainda não sei se irás ser conhecedor destas palavras, mas agora tenho vontade e necessidade de as dizer. Há muita coisa que não sabes. A primeira, é que quando estamos dentro da bolha não conseguimos enxergar para fora dela, achamos que só existe aquele mundo, que é tudo imaculado e que fora dele é o desespero e que ficamos sem chão. Pois então vou dar-te uma novidade que talvez não saibas: eu desesperei e perdi o chão. Porque tal como tu, só conhecia o mundo dentro dessa pequena e apertada cúpula, onde tu vives e eu acredito que sempre viverás. Sempre vivi sob um céu estrelado que achei que me iria iluminar a vida inteira, que nunca me deixaria perder o rumo, e a verdade é que continuo a viver. Tenho muito de ti, mas sou uma versão muito mais melhorada. Tu, não saberias levantar-te do caos, e eu não só me levantei, como voltei a subir. Sabes porquê? Porque sempre me recusei a ficar al...