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"Ele" - Sentimento omisso ou subentendido

Sentada na costa, conseguia olhar para o horizonte e ver o território vizinho, que na minha ideia, era visível… Naquele momento, pensei bem “no fundo” e conseguia atingir um pensamento máximo de mil coisas por segundo. As perguntas às quais eu não encontrava resposta estavam cada vez mais presentes, e quanto mais pensava, menos sabia e menos conclusões tirava. Acreditei até ao último instante que tudo não ia passar de uma onda, que acabaria por rebentar e não ia provocar estragos. Foi então ai que descobri o poder que um simples fluxo pode ter. Afinal aquela paisagem de que temos acesso a olhar, não é apenas um imenso azul em que podemos mergulhar e esquecer tudo, é muito mais do que isso…
De repente, quando dou por mim, já não estou sozinha. Mesmo do meu lado, estava ele. Esfreguei os olhos, olhei e tornei a olhar, não conseguia acreditar no que os meus olhos insistiam em ver. “Estou a enlouquecer” – pensei eu. Com tanta dúvida que reside em mim, com tantos “ses”. Mas desta vez não me enganei, e era mesmo ele. Sem demora, perguntei o porquê de tal presença, ali do meu lado, sorrindo para mim com vontade de querer ser meu amigo, de me dar a mão e de me ajudar a levantar. Depois de alguns segundos de estupefacção, voltei a perguntar. E foi aí que ele me disse: “Vim buscar-te”. No momento, não quis acreditar, e amedrontei-o de perguntas. Eu acreditava em tudo, menos nele. No meu achar, ele não existia, pelo menos para mim… E agora estava ali? E vinha buscar-me?
Sem querer, deixei cair as lágrimas pelo rosto e sorri para ele, como uma criança que acaba de receber um brinquedo. Na minha cabeça nada fazia sentido, não conseguia separar as consequências dos benefícios, não conseguia separar as pessoas boas das pessoas más. Para mim era tudo maravilhoso. Encostei a minha cabeça nele, e fechei os olhos. Senti um arrepio que me percorreu numa fracção de segundos, todos os membros pelos quais são constituídos o meu corpo. Foi nesse ápice que ouvi num tom baixo e sereno, bem junto do meu ouvido:
“Todas as pessoas têm direito a amar, todas as pessoas têm direito a ter direitos, toda a pobre gente tem o direito de sorrir, e não existe lei alguma que permita a sensação de perca durante tão longo período, como tu já vives-te, por isso estou aqui. Sou a tua oportunidade e vim buscar-te, vim provar-te que o amor pode existir ainda que não seja com o mesmo alguém que julgavas ser eterno. Agora vem, vem comigo e sê feliz”.

«Amor, sentimento abstracto, tu que um dia chegas-te sem pedir permissão, tu que fizeste de mim alguém que sou hoje, sem eu saber que essa personalidade poderia existir em minha essência, peço-te agora que voltes, sem mais demora e hesitação, vem mostrar-me o que é ser amada, vem hoje que te estou a pedir, não esperes que a angústia seja mais persistente que tu, vem mais uma vez e prova-me que podes voltar a existir, prova-me que és amigo com a esperança e que as tuas portas para mim, se tornarão a abrir».

I want the moment when you say "yes, I come back". 

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